Composta entre Julho e Outubro de 1928 no Tempo di Bolero, moderato assai ("tempo de bolero, muito moderado"), o Bolero tem um ritmo invariável (escrito para semínima = 72, ou seja, com a duração teórica de catorze minutos e dez segundos), e uma melodia uniforme e repetitiva.
Deste modo, a única sensação de mudança é dada pelos efeitos de orquestração e dinâmica, com um crescendo progressivo e uma curta modulação em mi maior próxima do final, mas retornando ao dó maior original a apenas oito compassos do final.
Forma uma obra singular, que Ravel considerava como um simples estudo de orquestração. A sua imensa popularidade tende a secundarizar a amplitude da sua originalidade e os verdadeiros objectivos do seu autor, que passavam por um exercício de composição privilegiando a dinâmica em que se pretendia uma redefinição e reinvenção dos movimentos de dança.
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Ida Rubinstein |
A origem do Bolero provém de um pedido da dançarina russa Ida Rubinstein, que encomendou a Ravel a criação de um balé de caráter espanhol. A estreia deu-se em Paris, na Ópera Garnier, em 22 de Novembro de 1928 sob direcção de Walther Straram, com coreografia de Bronislava Nijinska e cenários de Alexandre Benois. Uma das dançarinas foi a própria Ida Rubinstein, e a peça causou escândalo devido à sensualidade da coreografia.
O primeiro video que aqui trago é a interpretação de três pianistas portugueses, Bernardo Sassetti, Mario Laginha e Pedro Burmester, durante o espetáculo "Os Três Pianos" no CCB em Dezembro de 2005.
Esta peça vive de um tema que se repete, em crescendo, ao longo de 15 minutos. Quando interpretado por uma orquestra, é a entrada em cena de um número cada vez maior de instrumentos que vai dando forma a esse crescendo. É adição sucessiva de timbres e harmonias que faz com que a música cresça, evolua e se transfigure. Ao piano, essa liberdade não existe. Por isso, parece-me admirável como os três pianistas conseguem reproduzir esse crescendo, essa metamorfose constante, utilizando sempre os mesmos instrumentos.
Oiça e aprecie:
Espero que tenha ficado curioso em ouvir este tema interpretado por um corpo de dança e orquestra. Uma das coreografias mais famosas deste tema é a de Maurice Béjart.
Em 1961, o dançarino e coreógrafo Maurice Béjart criou sua versão para o
Bolero, tornando-a uma de suas obras mais importantes.
Maurice Béjart, nome artístico de Maurice-Jean Berger, (Marselha, 1 de Janeiro de 1927 — Lausana, 22 de Novembro de 2007) foi um dançarino e coreógrafo francês.
Fundou em 1953, ao lado de Jean Laurent, Les Ballets de l'Etoile, mais tarde rebatizado de Ballet-Théâtre de Paris. Com o lançamento de seu primeiro grande sucesso, Symphonie pour un homme seul (1955), foi convidado pelo Théâtre Royal de la Monnaie, em Bruxelas, a criar um balé para seu corpo de baile: assim nasceu sua obra prima. Le Sacre du printemps, em 1959.
Coreografou mais de duzentos balés, a maioria deles para sua própria companhia. Em Bruxelas, Béjart fundou o Balé do Século XX, que por três décadas maravilhou o mundo da dança, até ser transformado, em 1987, no Béjart Ballet Lausanne. Seguidor de culturas orientais, imprimiu em sua obra a marca dos gestos brilhantes com uma produção sensacionalista, muitas vezes com inserção de trechos falados. Seus críticos atacaram os temas filosóficos exagerados e a forma arrogante de utilizar a música. Mesmo assim, atraiu várias estrelas da dança, como Rudolf Nureyev, Maya Pilsetskaya e Suzanne Farrell.
Em 1980, a coreografia de Béjart foi reproduzida pelo bailarino argentino Jorge Donn no filme Retratos da Vida (Les uns et les autres), do diretor francês Claude Lelouch.
Aqui fica um video desta coreografia de Maurice Béjart dançada pelo bailarino argentino Jorge Donn e pela companhia de ballet "Le Bejart Ballet Lausanne" no Palacio de Congresos de Madrid em 1989.
E para provar que a sensualidade resulta igualmente bem no masculino como no feminino, aqui fica a mesma coreografia de Maurice Béjart, agora interpretada pela bailarina francesa Sylvie Guillem do Ballet da Ópera de Paris, aqui acompanhada pelo "Tokyo Ballet"
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